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A História da Washboard como Instrumento Musical: Origens e Evolução na Cena Jazz

Por BustaManouche, Artista Solo e Produtor Independente

(Thiago Bustamante Jornalista DRT 77550SP)


A washboard (ou "tábua de lavar"), uma ferramenta doméstica de uso cotidiano, passou a ocupar um lugar inusitado e importante na história da música, em especial no jazz. Embora seja um dos instrumentos mais incomuns do cenário musical, a washboard tem uma rica história que ilustra como objetos simples podem se tornar ferramentas de expressão criativa.



As Origens da Washboard como Instrumento Musical

A washboard, como o nome sugere, foi originalmente usada para lavar roupas, especialmente antes da popularização das máquinas de lavar. Sua superfície metálica ondulada servia para esfregar tecidos, ajudando a remover sujeira. Esse objeto utilitário, no entanto, começou a ser explorado por músicos de rua no sul dos Estados Unidos no final do século XIX, especialmente em comunidades afro-americanas que tinham acesso limitado a instrumentos mais tradicionais.

A transformação da washboard em instrumento musical foi impulsionada pela sua praticidade e acessibilidade. Era um objeto cotidiano que podia ser encontrado em praticamente qualquer lar, e com um par de dedais ou colheres, os músicos podiam produzir ritmos e percussões vibrantes, criando um som único. A washboard logo se tornou popular nas bandas de jug band e skiffle, gêneros que mesclavam o jazz tradicional com blues, folk e música popular.

A Washboard no Jazz Tradicional

A inclusão da washboard no jazz está intimamente ligada à evolução do jazz tradicional em New Orleans no início do século XX. O instrumento era perfeito para adicionar uma camada rítmica animada e sincopada às performances, especialmente nas ruas e festas onde bandas se apresentavam com instrumentos improvisados.

Grupos como os Dixieland Jug Stompers e outros que tocavam jug band music ajudaram a estabelecer a washboard como parte do kit de percussão. Em vez de se limitar a apenas sustentar o ritmo, os músicos experimentavam variações de intensidade e sonoridade, utilizando diferentes tipos de objetos para friccionar as superfícies da washboard.

Um dos músicos mais notáveis a usar a washboard na cena jazz foi Clarence "Red" McKenzie, que tocava com os Mound City Blue Blowers nos anos 1920. McKenzie utilizava dedais e outros objetos para criar um som ágil e percussivo, capaz de se destacar nas gravações com outros instrumentos tradicionais, como o banjo, trompete e piano.


Evolução e Adaptações ao Longo do Tempo

Conforme o jazz evoluiu ao longo do século XX, a washboard encontrou novos espaços de experimentação. Embora sua popularidade tenha diminuído nas grandes orquestras de jazz durante a era do swing e bebop, ela permaneceu presente em subgêneros como o skiffle, que surgiu no Reino Unido nos anos 1950 e fez uso de instrumentos improvisados e de baixo custo.

Além disso, nos anos 60 e 70, com a ascensão do movimento revival de jazz tradicional, a washboard retornou à cena com mais força, especialmente em bandas que se dedicavam a preservar o som e o estilo das primeiras formações de New Orleans. A simplicidade e o som característico da washboard faziam dela um instrumento nostálgico, mas ao mesmo tempo inovador nas mãos dos músicos contemporâneos.


A Washboard na Cena Contemporânea

Hoje, a washboard continua viva e vibrante em nichos musicais, particularmente no jazz tradicional, no blues e em gêneros de fusão como o folk-jazz. Bandas como The Washboard Rhythm Kings, que surgiram nos anos 30, são um exemplo clássico de como o instrumento continua a ser reverenciado e reinterpretado ao longo dos tempos.

Músicos contemporâneos, como Rory McLeod e Cody Dickinson (da banda North Mississippi Allstars), têm reinventado o uso da washboard. Dickinson, em particular, integra o instrumento com técnicas modernas, adicionando elementos eletrônicos e amplificação, demonstrando como a simplicidade rítmica da washboard pode se adaptar às exigências da música moderna.

A washboard também é frequentemente usada em apresentações ao vivo para criar uma atmosfera mais autêntica e orgânica, destacando o espírito improvisador do jazz. O instrumento permite uma interação direta com o público, graças ao seu som marcante e à performance visual envolvente.



homen tocando um washboard e cantando com um microfone vintage sentado em um cajón, tocado com o calcanhar direito e uma panderola no pé esquerdo, no conceito "One Man Band".
BustaManouche Live at Porks Augusta - São Paulo - Brazil

Conclusão

A washboard, um humilde instrumento improvisado a partir de uma ferramenta doméstica, trilhou um caminho único na história da música. De suas origens nas ruas de New Orleans até sua presença em palcos contemporâneos de jazz e fusões musicais, ela representa a criatividade, a improvisação e a capacidade dos músicos de transformar o cotidiano em arte. O legado da washboard como parte da rica tapeçaria do jazz continua vivo, provando que, com inovação e paixão, até os objetos mais simples podem se tornar veículos de expressão musical complexa e emocionante.


Thiago Bustamante é jornalista especializado em cultura e música, com passagens por veículos como "Rede Globo de Televisão" e "Revista Meio & Mensagem". Apaixonado por jazz, dedica-se a explorar as conexões entre música e sociedade.


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