Por BustaManouche, Artista Solo e Produtor Independente
(Thiago Bustamante Jornalista DRT 77550SP)
O jazz, com sua liberdade criativa e improvisação, sempre atraiu personalidades marcantes e excêntricas. Ao longo dos anos, as lendas do jazz deixaram não apenas um legado musical incrível, mas também uma série de histórias curiosas, engraçadas e até mesmo surreais. Sejam momentos divertidos nos bastidores ou acontecimentos inusitados no palco, o mundo do jazz está repleto de anedotas que mostram o lado humano e espontâneo dos grandes mestres do gênero.
Neste artigo, vamos compartilhar algumas dessas histórias memoráveis, que ajudam a capturar a essência do jazz e a personalidade única de seus protagonistas.
Miles Davis e o Garçom Desavisado.
Miles Davis, conhecido tanto por sua genialidade musical quanto por seu temperamento forte, era famoso por suas respostas diretas e muitas vezes cortantes. Uma das histórias mais conhecidas sobre ele envolve um garçom em um restaurante sofisticado de Nova York.

Certa vez, enquanto Miles jantava com alguns amigos, um garçom, sem reconhecer o lendário trompetista, perguntou: “O que você faz para viver?”. Sem perder a compostura, Miles olhou diretamente para ele e respondeu: “Eu troco o ar por dinheiro.” Essa resposta encapsula perfeitamente o espírito de Davis – sempre irreverente e com uma autoconfiança inabalável.
A "Jam Session" que Dizimou Charlie Parker.
Charlie Parker, ou "Bird", é uma das figuras mais influentes do bebop, mas mesmo gênios têm seus dias ruins. Em uma das mais famosas jam sessions de Nova York, Parker, então jovem e promissor saxofonista, teve uma experiência humilhante com o baterista Jo Jones.

Enquanto tocava "Body and Soul", Parker estava empolgado, mas acabou perdendo o tempo e saiu do ritmo. Jo Jones, impaciente com o erro, pegou um prato da bateria e o jogou no chão, aos pés de Parker, em uma espécie de "advertência" musical. A humilhação foi tanta que Parker deixou o clube e se afastou da cena por um tempo. No entanto, essa experiência foi um dos fatores que o motivaram a estudar ainda mais e se tornar o gênio que revolucionaria o jazz.
Dizzy Gillespie e o Chapéu Perdido.
Dizzy Gillespie, conhecido por sua técnica impecável no trompete e por sua personalidade irreverente, tinha um estilo único dentro e fora do palco. Uma de suas histórias mais engraçadas aconteceu durante uma turnê na América Latina.

Gillespie estava em um ônibus com sua banda, indo para o próximo show, quando pararam para comer em uma lanchonete à beira da estrada. Ao voltar ao ônibus, percebeu que havia esquecido seu chapéu favorito dentro do restaurante. Sem hesitar, ele pediu ao motorista que voltasse, dizendo que não poderia seguir sem o chapéu.
O motorista prontamente atendeu, mas quando chegaram ao restaurante, o chapéu havia desaparecido. Gillespie, com seu humor afiado, olhou para os colegas de banda e disse: “Bom, acho que é isso que chamam de hat jazz” (um trocadilho com hot jazz). A banda caiu na risada e a história virou piada interna em todas as turnês seguintes.
Thelonious Monk e seu Silêncio no Elevador.
Thelonious Monk, conhecido por suas composições e improvisações excêntricas, tinha uma personalidade introspectiva e muitas vezes imprevisível. Uma famosa anedota sobre Monk envolve uma breve, mas memorável, interação em um elevador.

Monk e alguns outros músicos estavam em um elevador a caminho de uma apresentação, quando uma mulher entrou e perguntou educadamente: “O senhor poderia me dizer as horas?”. Monk, que estava olhando para o chão o tempo todo, finalmente levantou a cabeça, olhou para o pulso (onde não havia relógio) e, em um momento de pausa teatral, disse: “Sim, claro. Agora.” E voltou a olhar para o chão, sem mais palavras. A mulher ficou confusa, mas os músicos ao redor de Monk entenderam que aquilo era apenas mais um dos momentos excêntricos do grande pianista.
A Brincadeira de Louis Armstrong com a Realeza Britânica.
Louis Armstrong, além de ser um dos maiores embaixadores do jazz, também era conhecido por seu carisma e senso de humor. Em uma de suas visitas ao Reino Unido, Armstrong foi convidado para tocar em um evento onde a Rainha Elizabeth II estaria presente. Depois de sua apresentação brilhante, a Rainha pediu para conhecê-lo pessoalmente.

Durante a conversa, Armstrong, sempre descontraído, decidiu brincar. A Rainha perguntou: “Como está gostando do Reino Unido?”. Armstrong, com seu sorriso inconfundível, respondeu: “Bem, Majestade, estamos nos divertindo muito, mas tem uma coisa que me confunde. Toda vez que vejo uma moeda daqui, vejo o seu rosto nela. A senhora está me devendo um monte de dinheiro!” A Rainha caiu na risada, assim como todos ao redor, e Armstrong continuou sendo um dos favoritos em seus círculos reais.
Ornette Coleman e o Show com uma Só Corda.
Ornette Coleman, um dos pioneiros do free jazz, sempre desafiou as convenções musicais. Em uma de suas apresentações em Nova York, Coleman subiu ao palco com um violino – um instrumento que ele não dominava tecnicamente. Quando ele começou a tocar, os sons que saíam eram tão dissonantes e inesperados que muitos na plateia acharam que ele estava brincando.

Em determinado momento, uma das cordas do violino se quebrou. A maioria dos músicos teria parado e trocado o instrumento, mas não Ornette. Ele simplesmente continuou tocando com as três cordas restantes, improvisando de uma maneira que poucos poderiam imaginar. A plateia, perplexa e fascinada, aplaudiu entusiasticamente, entendendo que, com Ornette, qualquer coisa era possível – até criar música com menos do que o necessário.
Nina Simone e o Piano “Rebeldia”.
Nina Simone, conhecida por seu talento extraordinário e seu ativismo social, também tinha uma personalidade forte e imprevisível. Durante um de seus shows, Nina ficou furiosa ao perceber que o piano que lhe foi fornecido estava desafinado.

Ela parou o show no meio de uma canção, se levantou e, diante de um teatro lotado, olhou para o técnico de som e disse: “Se você acha que eu vou tocar essa porcaria, está completamente enganado.” A plateia ficou em silêncio por um momento, mas logo começou a aplaudir, reconhecendo que Nina nunca aceitava nada menos do que a perfeição em sua música.
Conclusão
O jazz é uma forma de arte que celebra a liberdade, a criatividade e a improvisação – tanto na música quanto na vida. As anedotas e histórias dos grandes nomes do jazz revelam muito sobre suas personalidades, suas paixões e seu espírito irreverente. Esses momentos cômicos e excêntricos são um lembrete de que, por trás da genialidade musical, existiam seres humanos complexos, muitas vezes imprevisíveis, e sempre cheios de vida.
Gostou dessas histórias? Tem alguma outra anedota do jazz que gostaria de compartilhar? Deixe nos comentários!
Continue acompanhando o blog da Revista Jazz para mais histórias, curiosidades e conteúdos sobre o universo do jazz!

Thiago Bustamante é jornalista especializado em cultura e música, com passagens por veículos como "Rede Globo de Televisão" e "Revista Meio & Mensagem". Apaixonado por jazz, dedica-se a explorar as conexões entre música e sociedade.
Comments